segunda-feira, 2 de março de 2009

Carta de Juan Carlos - Março 2009


O que é o discernimento?

Há muitas pessoas que nunca ouviram falar disto. Outras percebem esta realidade como complicada, difícil e, talvez por isso, desnecessária para a vida cristã. Apesar da palavra «discernimento» ser frequentemente repetida no seio da igreja, muitas vezes é usada sem a devida precisão ou, o que é pior, sem aplicação prática.


Por isso quando o Directório Vocacional Claretiano dedica todo o capítulo VI para apontar princípios e critérios de discernimento vocacional (cfr nn. 232-286), é lícito que nos perguntemos: o que é o discernimento? Que papel desempenha na pastoral vocacional?


O discernimento é aquela capacidade interior que permite perceber e reconhecer onde e como actua o Espírito Santo, presença activa e porta-voz dos chamamentos de Deus. A pessoa que se treina na arte do discernimento é capaz de reconhecer Deus nas diversas situações do quotidiano, nas grandes e pequenas decisões, nos acontecimentos, nos problemas, em tudo… e, ao mesmo tempo, também percebe as obras dos «maus espíritos»: o espírito da mentira, do medo, da amargura, da confusão, do desânimo…


Saber o que é e como se faz um discernimento é essencial na pastoral vocacional. O discernimento outorga uma sensibilidade espiritual, quase instintiva e permanente. São Paulo chamava-lhe o discernimento dos espíritos e orava para que fosse concedido aos seus, em especial aqueles que tinham maiores responsabilidades.


Há pessoas que não têm de fazer grandes escolhas (uma criança, uma pessoa com grandes condicionamentos físicos, psicológicos, familiares, sociais, profissionais, culturais…). Essas pessoas se assumem de forma cristã os seus limites, com entrega, amor e humildade, crescem, santificam-se e não caem no desespero. Por outro lado, aqueles que devem tomar decisões importantes em relação ao futuro, ou se encontram em determinadas circunstâncias que assim o exigem, têm uma grande necessidade de discernimento para compreender onde actua o espírito de Cristo e onde engana o mau espírito. Quando são capazes de o fazer podem dizer: aqui há verdade, aqui há um chamamento de Deus que devo atender, aqui há sacrifício evangélico, aqui há santidade, aqui há obediência sincera, aqui está a cruz; ou, pelo contrário, aqui há falsidade, comodidade e egoísmo, aqui há exibicionismo, aqui há vangloria, aqui há muito ego ou coisas que parecem boas mas no fundo são más.


O discernimento não acaba nunca porque na vida encontramos com frequência situações, problemas, dificuldades que não se podem resolver mecanicamente com um computador, nem às cegas ou por palpites… é necessário enfrentá-las com o Espírito de Jesus. E muitas vezes isto não é nada fácil.


Discernir é a capacidade de distinguir as coisas essenciais das acessórias, as últimas das penúltimas, as que passam e as que se mantêm, sem desprezar nada. E isto pode e deve aprender-se. A pastoral vocacional deve provocar esta aprendizagem.


Juan Carlos, cmf

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